Exercício para observar árvores
Abandonei os relógios movidos à pilha.
Minha maneira de perceber o passar do tempo é observar meu corpo, as linhas que
o delimitam, a sombra que ele faz no chão quando me movo.
Ele diminuiu lentamente. Ele dói,
mas é uma dor de vida pulsante, quase sagrada.
Sei que já se passaram muitos dias, pois a dor diminuiu. Distraí-me observando o crescimento da árvore, assim criei mecanismos para entender o tempo. Posso ver pelos desenhos dos galhos cortados e das formas das folhas caídas. À noite já não se parecem mais com as da manhã daquele dia, e com o dia anterior, e com o outro... Os galhos ocuparam a sala, o quarto, a varanda, a pia, os pratos. A árvore ocupou todo o espaço dos móveis antigos. Destelhou o abrigo que existia. Já posso ver a lua! Primitiva e misteriosa, iluminando o tempo das coisas.
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